Pode ter visto no filme Karate Kid III o Daniel-san a desenterrar um bonsai para oferecer ao seu mestre, Mr. Miyagi – no caso dele, pura asneira; a árvore só não morreu porque se tratava de um filme… Tentaremos neste artigo explicar os passos para obter um yamadori bem-sucedido, ainda que tal não possa ser assegurado, mas nada como tentar para o conseguir.

Antes de mais, a definição: yamadori é o nome que se dá à colheita de árvores diretamente na Natureza para transformação em bonsai. Árvores que não recebam luz suficiente, tenham um solo empobrecido de nutrientes e ainda sirvam de alimento para animais (um bode a comer as folhas cria o efeito de uma poda), ficam com o crescimento limitado, obtendo-se assim um bonsai natural. Depois de colocado num vaso e aplicadas as técnicas de bonsai chamar-se-á yamador-shitate.

Ora, esta é, sem sombra de dúvida, a forma mais económica de obter um bom exemplar num período de tempo relativamente curto e de acordo com a qualidade do exemplar em questão. Na maior parte das vezes, o tronco está perfeitamente desenvolvido e apenas é necessário desenvolver ou dar movimento aos ramos.

Época
A melhor altura para colheita é a Primavera, ainda que, com o nosso clima actual, tal seja relativo. Em caso de dúvida, guie-se pelo surgimento dos brotos ou pelo mês normal de transplante da espécie em causa. Este é um dos passos mais importantes, pois uma muda nesta altura, e com os devidos cuidados, permitirão que as raízes se desenvolvam correctamente e a planta se ambiente ao seu novo “lar”. Tenha em consideração que transferir uma árvore da Natureza para um vaso é sempre um choque muito grande, portanto, redobre os cuidados.

Procura
Um potencial yamadori tanto pode ser encontrado no quintal de um familiar (ainda que difícil) como na berma de uma estrada – é preciso ter alguma sorte (um certo timing de oportunidade), olho para a selecção e, na maior partes dos casos, convém ter permissão para escavar no terreno. Qualquer um pode arrancar árvores da terra e colocá-las num vaso; manter a sua longevidade, isso é outra história… a sobrevivência de um yamadori não é garantida, mesmo depois dos melhores cuidados serem empregues. Na maioria das vezes, as árvores de colheita podem morrer, por isso, procure uma com um tronco forte, que originará num bonsai forte. Não ligue muito à estrutura dos ramos, uma vez que numa árvore forte terá tempo para os desenvolver mais tarde.

Colheita
Neste campo é necessária uma grande dose de paciência. Convém “trabalhar” a árvore de forma a reduzir o choque induzido pelo transplante, desde escavar um ano antes uma parte da terra à volta das raízes expostas (nebari), a podar em larga escala os ramos para menor consumo de energia vital da planta (alimentação radicular), tudo vale neste campo. Como nesta altura já deve ter em mente qual a estrutura final do “projecto”, pode aproveitar, se a árvore estiver saudável, para remover todos os galhos desnecessários à estética final e, em especial, os de maior porte, não esquecendo de tapar os cortes com pasta cicatrizante. A colheita pode ir de 1 a 5 anos de preparação, dependendo do quão compactas estão as raízes.

Lembre-se que uma árvore na Natureza tem (normalmente) ilimitadas quantidades de terra para se alimentar; e como no nosso clima não chove muito, as raízes tendem a descer na vertical para procurar água, daí por vezes termos árvores de 20 cm com raízes de 1 metro. Um método que muitos especialistas usam (embora drástico, funciona), é cortar as raízes do lado direito num ângulo de 180º e, ao fim de 6 meses, cortar as do lado esquerdo utilizando o mesmo sistema. Assim, o intervalo de tempo permitirá que novas e mais compactas raízes se desenvolvam e terá uma colheita pronta ao fim de um ano.

Deixamos aqui uma outra dica: tente abanar o tronco da árvore; se ele não se mexer, é porque as raízes estão muito profundas. É melhor deixar uma árvore no sítio onde nasceu do que destruí-la num acto egoísta de a obter. Por outro lado, se ela se mexer… avance! Comece por escavar à volta da árvore até ver as raízes. Continue a escavar com muito cuidado, e assim que estiver pronta para remover, envolva um pano húmido à volta das raízes para impedir que se quebrem… agora está pronta para transportar!

Transplante
Este procedimento tem lugar poucas horas após a colheita; se estiver em viagem, vir um espécimen fantástico e decidir metê-lo na mala do carro para no dia seguinte envasar: esqueça, morrerá certamente! A fase inicial deste processo começa com a redução das raízes (apenas as de suporte), dependendo do tamanho da árvore (o importante aqui é uma sensibilidade de proporção) mas, na maior parte dos casos, basta que haja 3 raízes grandes e o máximo de raízes pequenas ou finas (as que alimentam a planta).

Não se esqueça de aplicar em abundância pasta cicatrizante nos cortes para evitar possíveis infecções. Após isto, está em posição de a colocar num vaso ou, de preferência, num caixote de madeira que permitirá à planta recuperar mais rápido. Siga os passos como se de um transplante normal se tratasse, mas escolha um solo mais rico e com boa capacidade de drenagem, proteja a árvore do vento e atente nas regas. Não sacuda toda a terra das raízes; conservando o suficiente para que as raízes mantenham a sua posição e se desenvolvam na nova terra.

Recuperação
Nesta fase são necessários, no mínimo, 1 a 2 anos de crescimento livre. No caso de pinheiros ou juniperus, podem ascender a 5 anos. Convém verificar se a planta apresenta sinais de saúde ou de recuperação; o crescimento de ramos é um bom sinal de que as raízes se estão a desenvolver. Por outro lado, novos rebentos ou novas folhas não são sinais de saúde, pois já vimos árvores terem estes resultados apenas com a energia armazenada e sem sequer estarem em contacto com o solo…

Estruturação
Assim que a árvore esteja forte e saudável, pode transplantá-la ou definir o seu design, mas nunca no mesmo ano (escolha a que achar mais importante). Lembre-se de lhe dar descanso, sendo que os passos mais importantes serão a rega, a luz solar e a fertilização. Com a ajuda deste artigo e recorrendo ao bom senso para melhor definir os tempos de actuação, estará em posição de ser o detentor de um excelente exemplar de bonsai que, se o comprasse, custaria um balúrdio e se o semeasse demoraria uma vida… visto assim, vale a pena todo o trabalho de um yamadori!